quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tudo ou nada, eis a questão.

Tudo ou nada.

É assim que sentimos e enxergamos nossa vida; é nessa dicotomia que muitas das nossas escolhas são envolvidas. Se não se pode ter o máximo, o tudo, se não se pode chegar ao topo da montanha, por que não ficar na base, fazendo companhia ao vazio?

O gozo com o nada, com a falta, parece ser mais pleno do que o prazer das parcialidades. Como se o não ter fosse mais intenso e humano do que o ter parte do todo. Vida e morte se equivalem, será? A frustração de não ter compensa mais do que a dor do limite, das imposições da natureza das coisas? Sinceramente, não sei.

Outro dia estava indo para minha terra e quando cheguei no meu lugar reservado no avião estava sentado um menino, de uns 10 anos de idade. Perguntei com quem ele estava, chamei a comissária, que solicitou sua saída. Após alguns xingamentos, ele saiu e sentou no assento do corredor. Alguns minutos observando, percebi que era a primeira vez que ele estava andando de avião. Resolvi, então,negociar, e sugeri que durante a decolagem ele ficasse sentado na janela. Depois, eu disse, nós trocaríamos e eu ficaria no meu assento. Sabe qual a resposta que ele me deu? "Não, não quero, só quero se for a viagem toda".

Tudo ou nada, simples assim!

P.S.: terminada a decolagem, cedi a janela para ele. A felicidade voltou a reinar.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ela

Ela chegou de surpresa. Depois de muitos anos sem qualquer notícias, a danada resolveu, do nada, dar o ar da graça e aparecer. Não bateu a porta, não ligou antes, chegou!

A partida, ninguém sabe a razão. O exato momento em que se foi, nem eu sei. Mas só eu, apenas eu, posso dizer o quanto foi difícil, afinal de contas sem ela nada tem sentido; aliás, sem ela passo a buscar sentido no tudo e no nada.

Não deu explicações, não disse quando voltaria, nem se voltaria. Apenas se foi, como se sem ela eu pudesse continuar de pé, sem tombar ou me abater. Nem ela mesma sabia que era tão indispensável .

Não raro, sentia algo que me fazia vê-la vindo de longe. Nessas visões turvas, ela vinha sempre acompanhada de alguém ou de alguma coisa que eu sempre achei que desejasse. Mas lá no fundo, bem lá no fundo, sabia que era pura criação da minha mente alucinada pelo seu retorno. Sedenta e, ao mesmo tempo, resistente em tê-la de volta.

Os amigos diziam que uma hora sua volta aconteceria; outros tentavam substituí-la; alguns nunca a tinham conhecido, embora oportunidades não tenham faltado

Eu evitava pensar sobre ela, não a procurava, me enganava e esvaziava o tempo todo. Mas sabia que continuar sem sua presença seria quase impossível.

Que bom que hoje ela voltou; minha vontade de viver voltou e prometeu ficar por algum tempo. Que ela fique enquanto estivermos só eu e ela, junto com o restos e as faltas; os versos e os reversos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Para todas as horas

Fico me perguntando como seria a vida sem amigos. Sem essas pessoas que chegam sem ser escolhidas ou chamadas. Que simplesmente aparecem e ficam para todas as vidas e outras tantas.

O que seria de nós todos se não fossem eles? Como seria difícil decidir mandar aquela carta de amor sem tê-los por perto para nos dizer um "sim"; como seria escolher a roupa para ir ao primeiro encontro sem suas opiniões? O que seria de nós naquelas noites longas em que o sono não chega se não fossem eles?

Eu acho que amigo é coisa essencial na vida de todo mundo. Já pensou chorar a ida de um pai sem um amigo por perto? Ou enterrar o cachorro no quintal da casa sem uma pá de ajuda de um deles? Imagina sentir dor de dente às 3hs da manhã e não ter quem acordar?

Amigo é tudo na vida, meus amigos. É aquele para quem se liga quando se consegue o primeiro emprego; é quem primeiro sabe daquele mega show com o artista preferido; é com quem se faz pacto de sangue, juras de segredo, promessas incondicionais. Imagina abrir o jornal com o resultado do vestibular e não ter um deles para chamar?

Amigo é PHoda, com PH maiúsuclo. Divide o sanduíche, a coca-cola, a bata frita, o sonho de valsa e a água sem gás. Empresta o sapato para a entrevista de emprego, corre no meio do dia para tirar o outro do prego de gasolina na avenida mais movimentada da cidade; empresta dinheiro e não cobra; sente raiva e diz; ama, chora, briga, grita, corre, luta, vibra, entra, sai e volta.

Amigo é para todas as horas, para todas as vidas, para a eternidade.

Para todos os meus amigos que eu amo demais.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Super-homem também chora

Dizem por aí que homem de verdade não chora. As lágrimas, portanto, só existiram nos olhos femininos, só neles tendo terreno fértil para se reproduzir, fluir e lubrificar o globo ocular. Até nisso as mulheres seriam privilegiadas.

Pois saibam que eu tive a oportunidade de conhecer uma exceção; eu conheci um super-homem que chorou.

Minha infância foi muitas vezes invadida por crises intermináveis de garganta. Virei um verdadeiro "cliente vip" do hospital Luiz de França em Fortaleza, para onde eu ia, em certas épocas, pelo menos duas vezes por semana. Era um "deus nos acuda". Minha mãe e meu pai, coitados, já tinham aquele cheiro de hospital impregnado nas narinas e as olheiras como amigas leais e inseparáveis.

A rotina era praticamente a mesma: crise inflamatória, hospital, farmácia, casa.

Quase sempre entre a farmácia e a casa havia um elemento a mais: uma injeção nas nádegas. Como dóia aquele troço. Primeiro a dor da humilhação de mostrar a bunda (vamos deixar de eufemismos) para um desconhecido; eu odiava aquilo.

Não bastasse isso, a agulha era, com falsos exageros, do tamalho de uma âncora de navio.

Numa dessas passagens pelo querido farmacêutico, eu levei a pior. Não se sabe exatamente por qual razão, a injenção, já grande, dolorosa e humilhante o suficiente, ainda me provocou uma paralisia na perna, de forma que eu simplesmente deixei de andar. O caos se instalou na família.

A um passo do completo desespero, minha mãe não sabia mais o que fazer. O filho prostrado em cima da cama; não havia médico que descobrisse o que ocorrera; meu irmão reinando sozinho; faltas na escola...

Havia quem cogitasse uma dose excessiva; outros preferiam jogar a culpa no farmacêutico, que, por sinal, era minha tese vingativa preferida: imputar a culpa ao carrasco.

O certo é que os dias iam se passando e a perna não respondia a nada, absolutamente nada. Não havia mais o que se fazer...A sentença de imobilidade já praticamente havia sido proferida; era como se faltasse apenas uma assinatura para torná-la pública.

Mas como em toda história de heróis, eis que que o super-homem aparece, sem a capa vermelha e sem aquela roupa azul colada. Ele não voava; não usava óculos nas horas anônimas; não aparecia só de vez em quando. O meu super-homem vinha todos os dias para minha casa e dormia no quarto ao lado com a mulher-maravilha. Ele não tinha músculos avantajados; não era galã de cinema, nem tampouco queria salvar o mundo.

Naquela noite, sem aguentar mais me ver naquelas condições, sem vislumbrar outra solução, meu super-homem simplesmente chorou.

No outro dia de manhã eu estava aprendendo a andar de novo.

Beijos e abraços.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Queria voltar no tempo...


À época em que eu ainda sentia medo do escuro, já sentia pavor do motor do dentista e ainda não sentia medo de perder alguém. É, não sentia, porque ainda vivia na enebriante ilusão de que meus pais iam viver para sempre e que meu irmão ia sair de casa algum dia para eu reinar sozinho.


Ao tempo em que eu colecionava meus álbuns de figurinha (que eu nunca conseguia terminar); que eu brigava com meus primos por ciúme do meu super-Pai; que eu ia para as férias no interior do Ceará acordar bem cedinho ver as vacas sendo ordenhadas; que achava que eu nunca fosse conseguir dirigir um carro (que dirá em São Paulo).



Àqueles tempos em que eu achava que ia ser veterinário; que eu só queria tirar dez na escola; que eu brigava na rua porque perdia o jogo dos "sete-pecados"; que eu achava que nunca fosse andar de avião.


Não, me deixa por aqui mesmo. Deu muito trabalho chegar aqui!!!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Era uma sexta à noite. Um daquelas normais, igual a todas as outras, sem nada que tirasse do coração um suspiro mais forte. Uma noite de um jovem de classe média, bem sucedido profissionalmente, voltando do shopping com alguns reais a menos no bolso e alguns pacotes cheios de "muletas".

Para a angústia dos motoristas, o sinal fica vermelho. Os carros todos cessam o movimento nervoso e um homem com uma placa de quase um metro aparece entre os veículos.

O jovem, sem ler o que estava escrito no papelão, saca alguns trocados da carteira, baixa o vidro e entrega parte do que sobrou das compras ao pedinte.

Depois de um longuíssimo minuto de espera, o sinal fica verde e os motores voltam a acelerar. O jovem segue seu caminho de todos os dias.

Mas eis que algo de inesperado é sentido pelo pobre jovem. O pequeno burguês é tomado por uma vontade avassaladora de voltar, de olhar nos olhos daquele cara do papelão. Sentia-se quase magnetizado pela idéia de voltar e simplesmente conversar com aquele que lhe tirou algumas moedas a mais da sua carteira, sem que qualquer muleta levasse.

Num ímpeto, já quase entrando na garagem do prédio, o pobre jovem muda sua direção, liga a seta e volta ao bendito sinal. Chama o senhor da placa e começa a perguntar-lhe coisas que lhe vinham à cabeça, como se quisesse desesperadamente arrancar daquele senhor algo para si, algo que ainda não detinha.

Indaga-lhe os motivos da sua permanência na rua até aquele hora, escuta a história, pergunta-lhe pela família, pelo trabalho e impressiona-se não só com o que escuta, mas sobretudo com a postura daquele senhor. Fugia à tradicional manta de coitadinho e desemparado que qualquer pessoa sujeita a situação idêntica colocaria sobre si. O olhar e o sorriso daquele senhor transpassava a alma do pobre jovem de uma forma tão diferente, tão específica, que o fez pensar se tratar de alguém que já conhecia ou alguém que estava ali com um propósito maior.

A vinda do senhor para São Paulo decorreu exclusivamente da necessidade de tratamento de saúde de sua filha; o trabalho, ele aguardava a resposta de uma proposta no dia seguinte. A origem do senhor? Ele vinha da mesma cidade onde nasceu o jovem motorista.

O jovem saca mais um pouco de dinheiro da carteira ainda cheia, e vê o rico homem aos prantos agradecido pelo ato. Pede para que ele vá para casa e o vê logo em seguida contando o que acabara de lhe ocorrer aos frentistas do posto de gasolina.

Naquele noite fria, o pobre motorista foi dormir rico e cheio de vontade de virar gente de verdade.

O jovem nunca mais viu a placa de papelão naquel sinal.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

São 07:35 da manhã.

Silmara, obrigado pelo comentário super carinhoso. Logo na primeira postagem ter sua presença foi muito importante para continuar com essas minhas divagações.

Acordei cedo hoje e tomei banho olhando para a Anchieta completamente engarrafa às 06:30 da manhã. As aulas voltaram...O frio começa a passar, apesar da chuva repentina de hoje.

Vendo aquela multidão de gente enlatada direto do meu chuveiro fiquei pensando o que cada uma daquelas almas carrega logo no começo do dia.

A reunião às 08:00 hs, em que chegará atrasado, porque a pista deslisante fez todo mundo diminuir a velocidade?

A quantidade de papéis que encontrará sobre a mesa, todos cheios de problemas para resolver até 10:00hs?

O almoço com o chefe às 12:00hs, onde só se falará de metas, de dinheiro e da próxima viagem a Europa?

Ou seria sobre a audiência das 15:oohs, em que terá que se defender a empresa de plano de saúde que insiste em não cobrir o tratamento de HIV do paciente que paga R$ 400,00 por mês?

Não seria no curso de inglês às 18:00hs, que só se faz porque a empresa exige que seus funcionários tenham alguma língua estrangeira, mesmo que não se escreva uma frase inteira sem um erro de português?

E já se pensa em construir estacionamentos verticais, onde caibam 400 carros, porque na rua não cabe mais nenhum.

Bom dia chuvoso a todos.